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Workaholic ou Medo de Ficar de Fora? O Novo Dilema do Mundo Digital


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Quando o Trabalho é a nossa Identidade: O Limite Invisível

O trabalho tornou-se parte central da identidade das pessoas.É comum definir-se alguém pelo seu papel profissional antes mesmo de conhecer outros aspetos da sua vida: “ela é líder de equipa”, “ele é gestor de produto”, “trabalha naquela empresa”. A carreira passou a ocupar um espaço fundamental na forma como os indivíduos se apresentam e se sentem valorizados.


Este envolvimento pode ser positivo — sinal de compromisso, motivação e propósito. Mas existe um ponto em que essa ligação começa a gerar desequilíbrio: quando o trabalho se torna a única ou principal referência de identidade.


Quando parar se torna desconfortável

Mesmo em períodos de descanso, como férias ou fins de semana, muitas pessoas mantêm o impulso de "só verificar" o email, o chat da equipa ou os canais de comunicação internos.Não por necessidade prática, mas por inquietação....A ausência gera desconforto.... A pausa parece arriscada.


Esse comportamento, aparentemente inofensivo, pode indicar uma dificuldade em desligar — não por excesso de trabalho, mas porque a desconexão ameaça a perceção de pertença, utilidade ou controlo.


A cultura digital reforça a ideia de presença constante..

....Com o aumento do trabalho remoto e o uso intensivo de ferramentas digitais, tornou-se mais difícil estabelecer limites claros entre trabalho e tempo pessoal.Hoje, estar “online” é muitas vezes interpretado como sinal de empenho. Responder rapidamente a mensagens passou a ser lido como disponibilidade e envolvimento.


Mesmo quando não há exigências diretas, existe uma pressão invisível: se não estiver presente, posso perder algo importante ou deixar de ser relevante.


Workaholic e FOMO: dois lados da mesma moeda

Este comportamento pode ter origem em dois fatores distintos — mas que frequentemente se sobrepõem:

  • Workaholic: a necessidade constante de estar a produzir ou a entregar, muitas vezes motivada por perfeccionismo ou validação externa.

  • FOMO (Fear of Missing Out): o medo de perder oportunidades, informações ou decisões relevantes durante a ausência.


Ambos os fenómenos resultam numa ligação contínua ao trabalho, mesmo fora do horário laboral — e ambos são, muitas vezes, normalizados pelas organizações e pelas equipas.


O limite invisível

É importante identificar os sinais que indicam quando o envolvimento saudável se transforma em excesso:

  • Dificuldade em estar verdadeiramente presente fora do contexto profissional.

  • Sensação de culpa ao desligar.

  • Descanso que não é reparador porque a mente permanece ligada ao trabalho.

  • Insegurança sobre o próprio valor quando não se está a produzir.


Estes sinais não devem ser ignorados. São indicadores de que a relação com o trabalho precisa de ser revista....O objetivo não é desvalorizar o trabalho como parte da identidade — mas sim garantir que não é a única dimensão com que a pessoa se define.

É necessário espaço para outras áreas: vida pessoal, relações, criatividade, descanso.


Desligar não significa descompromisso. Significa saúde, autonomia e maturidade profissional.A ausência pontual não apaga o contributo. O descanso não reduz o valor de ninguém.


Numa cultura onde o trabalho é fortemente valorizado — e muitas vezes confundido com identidade — é essencial encontrar equilíbrio.... Não se trata de trabalhar menos, mas de garantir que o valor pessoal não está dependente da presença constante, da resposta imediata ou do desempenho ininterrupto.


O verdadeiro profissionalismo não se mede pela quantidade de tempo ligado, mas pela capacidade de estar presente, entregar com qualidade e saber, quando necessário, parar.

 
 
 

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