top of page

A Pressão da Parentalidade na Era da Informação: Quando Saber Demais Nos Afasta de Nós Mesmos


Nunca se falou tanto sobre parentalidade como hoje. Nunca tivemos acesso a tantos livros, vídeos, especialistas, perfis de Instagram e podcasts sobre como educar, nutrir e entender os nossos filhos. E, paradoxalmente, nunca foi tão difícil confiar em nós mesmos para o fazer.


Na era da informação, ser pai ou mãe tornou-se uma tarefa constantemente vigiada, comentada e, muitas vezes, julgada. Há conselhos para tudo: o que dizer, como dizer, o que nunca dizer, quando deixar chorar, quando abraçar, como impor limites de forma gentil, como reagir a uma birra sem perder o controlo… E tudo parece vir com um peso: se não fizeres assim, estarás a traumatizar o teu filho.


O resultado? Pais exaustos, culpados, perdidos entre teorias e práticas, incapazes de respirar fundo antes de agir porque sentem que tudo precisa de ser feito da forma certa. Mas o que é “certo” quando há tantas versões contraditórias?


A culpa como companhia constante


Quantos pais se sentem mal por se terem zangado com os filhos?

Por terem gritado, por terem perdido a paciência, por não terem conseguido aplicar aquela técnica que leram no dia anterior?


É que a parentalidade não é feita no silêncio dos livros, mas sim no caos do dia a dia. Nos banhos apressados, nas refeições recusadas, nas noites mal dormidas, nas birras em público e nas emoções à flor da pele — tanto das crianças como dos adultos.




E é justamente aqui que mora o desafio mais invisível: a culpa que se instala quando sentimos que falhámos. Quando não fomos o adulto “regulado” que nos prometeram ser possível com prática e consciência. Quando, na tentativa de seguir tudo à risca, nos desconectamos da nossa própria intuição.


E as crianças? O que aprendem com isso?


Crianças aprendem sobretudo pelo exemplo. Quando observam pais constantemente ansiosos por acertar, com medo de errar, hiperalertas para cada sinal de desconforto, estão a receber a mensagem — ainda que silenciosa — de que o mundo é frágil. Que o erro é perigoso. Que os adultos não podem falhar.


Mas e se, ao contrário, mostrássemos que é humano falhar?

Que o adulto também se zanga, também chora, também precisa de pedir desculpa?

Que, mesmo depois do erro, é possível reparar, conversar e seguir juntos?


Esse é, talvez, o maior presente que podemos dar: o exemplo de como se repara uma relação, de como se reconhece um limite, de como se volta atrás e se tenta de novo. Não precisamos de perfeição. Precisamos de vínculo. De presença real. De pais que se mostram humanos — e por isso mesmo, profundamente disponíveis.


Informação é poder… até deixar de ser


Saber é importante. Compreender o desenvolvimento infantil, as necessidades emocionais das crianças, os impactos das palavras e das atitudes — tudo isso é essencial. Mas saber demais, sem filtrar, sem tempo para digerir, pode ser paralisante.


A era da informação trouxe ferramentas valiosas, sim. Mas também tirou aos pais a liberdade de escutar o próprio instinto, de observar o próprio filho, de encontrar um caminho próprio — com erros, acertos, ajustes e muita autenticidade.


No fim, educar é uma construção. É um caminho feito lado a lado, onde o mais importante não é ter sempre razão, mas ter sempre relação. E estar disponível para aprender com os filhos tanto quanto esperamos que eles aprendam connosco.



Comentários


bottom of page